O sonho é a pior das
cocaínas, porque é a mais natural de todas. Assim se insinua nos hábitos
com a facilidade que uma das outras não tem, se prova sem se querer,
como um veneno dado. Não dói, não descora, não abate – mas a alma que
dele usa fica incurável, porque não há maneira de se separar do seu
veneno, que é ela mesma.
Fernando Pessoa
"Acordo
com um ferro no coração. Qualquer movimento pode reabrir a ferida. O
melhor é ficar quieto, aproveitar estes minutos, sentado na varanda com
vidros que me isolam do mundo a olhar o areal imenso e o mar branco lá
ao fundo. Nada mexe e eu não me mexo. Se houvesse um sentido era assim. - Os amantes sabem por que morrem, Nos teus braços morreríamos" Pedro Paixão
"Ela sabe que não se consegue precisar o momento, a hora, o dia em que uma pessoa fica apaixonada. Sempre um pouco antes, sempre um pouco depois. Ela sabe que não se pode revelar definitivamente como, e porquê, uma pessoa ficou apaixonada por esta pessoa, precisamente esta, e não por outra muito parecida com ela. Qualquer razão perde a razão. O que uma pessoa pode sentir é se está ou não apaixonada. Que houve um estreito abismo, sem saber quando nem como, sobre o qual sabe que saltou. Sem poder avaliar as consequências. Como uma doença. Não é só isso. Uma pessoa quando está apaixonada não está continuamente apaixonada, muito menos com a mesma intensidade. Varia muito. Acontece uma pessoa duvidar se está ou não apaixonada. Ficar totalmente baralhada. É mais fácil uma pessoa sentir a paixão por outra pessoa quando ela não está presente. Isso parece-lhe um facto. A sua ausência aumenta o poder da sua presença. A paixão é mais sua, mais inteira, há menos interferências. Com ela é assim. Sente um vazio que só o outro, único no mundo todo, vai poder preencher, sarar, cuidar. Uma espécie de saudade imperiosa. Uma questão de vida ou de morte." Pedro Paixão
«Quase gosto da vida que tenho. Não foi fácil habituar-me a mim. Tive de me desfazer das coisas mais preciosas, entre elas de ti. Sim, meu amor, tive de escolher um caminho mais fácil. O dinheiro também tem a sua poesia. E tenho tido sorte. Deixei para trás a obrigação de mudar o mundo. Já cometi corrupções. Só ainda sinto dificuldades em mentir, mas também aqui vejo melhoras. Trata-se só de deformar ligeiramente o que vai acontecendo, não de inventar tudo de novo. Tenho mais alguns anos diante de mim e depois quero acabar de repente. Não sei se valeu a pena mas também não me pergunto se valeu a pena. Há muitas coisas assim. Não é desistir, é só dar demasiada importância a coisas que não a têm. A vida é uma delas. Ganha um valor particular quando deixamos de a encarar como o centro de tudo. É só por acaso que gostamos das flores e do mar. E, claro, que é um bom acaso. Mas mais do que isso não. Quase gosto da vida que tenho. Quando a quis toda não gostava de mim. Agora há dias em que aceito que o tempo passe por mim e me leve para onde só ele sabe.
...Vivo sozinho. Passam pessoas, mas nunca ficam por muito tempo. A partir de certa altura intrometem-se tédios por entre as frases e não sabemos continuar. Não insisto. Há muitas pessoas. Não vale ter medo. Há muito que o amor mostrou ser um fracasso. No dia seguinte, no escritório, esperam-me problemas por resolver e decisões que valem dinheiro. Não posso sofrer. Claro que por vezes me sinto triste como toda a gente. Mas é uma tristeza doce, como um descanso. E como não espero nada, não faço nada. De uma maneira ou de outra também acabarei por adormecer esta noite.»
"Ela
sabe que não se consegue precisar o momento, a hora, o dia em que uma
pessoa fica apaixonada. Sempre um pouco antes, sempre um pouco depois.
Ela sabe que não se pode revelar definitivamente como, e porquê, uma
pessoa ficou apaixonada por esta pessoa, precisamente esta, e não por
outra muito parecida com ela. Qualquer razão perde a razão. O que uma
pessoa pode sentir é se está ou não apaixonada. Que houve um estreito
abismo, sem saber quando nem como, sobre o qual sabe que saltou. Sem
poder avaliar as consequências. Como uma doença. Não é só isso. Uma
pessoa quando está apaixonada não está continuamente apaixonada, muito
menos com a mesma intensidade. Varia muito. Acontece uma pessoa duvidar
se está ou não apaixonada. Ficar totalmente baralhada. É mais fácil uma
pessoa sentir a paixão por outra pessoa quando ela não está presente.
Isso parece-lhe um facto. A sua ausência aumenta o poder da sua
presença. A paixão é mais sua, mais inteira, há menos interferências.
Com ela é assim. Sente um vazio que só o outro, único no mundo todo, vai
poder preencher, sarar, cuidar. Uma espécie de saudade imperiosa. Uma
questão de vida ou de morte."